O que foi a Revolta da Armada?

Por Revolta da Armada se entende um movimento de contestação ao governo de Floriano Peixoto, e ocorrida em 1893.

Liderada pelo almirante Custódio de Melo, e nucleada no couraçado Aquidabã, a revolta se estendeu a outros 16 navios de guerra – que incluíam de velhos navios de roda do tempo da Guerra do Paraguai, cruzadores, torpedeiros, navios de madeira e outros blindados – e outros 18 mercantes e rebocadores.

Entre os navios militares, alguns só podiam mover-se com o auxílio dos rebocadores, sendo pouco mais que sucatas.  A melhor embarcação, o couraçado Riachuelo, fora enviada para a Europa a pretexto de reparos por Floriano, senão inteirado, pelo menos com suspeita do que vinha sendo tramado na frota.

As fortalezas costeiras, que se mantiveram fiéis ao governo federal, no entanto, também não eram menos incapazes de uma decisão, faltando-lhes de armas a munições e sobrando improviso e imprevidência.

Ao invés de forçar a saída da Baía de Guanabara, rumo a Santos e eventualmente visando ocupar São Paulo para ali instalar uma sede revolucionária, Custódio deixou-se imobilizar no Rio de Janeiro enquanto aguardava o apoio armado de outros pontos do território nacional.  Tais auxílios, por sinal, nunca vieram.

Por outro lado, após o anúncio oficial do motim, formam-se batalhões patrióticos em apoio a Floriano, que se esforça para reforçar Niterói e impedir um desembarque dos rebeldes, além de artilhar morros em volta da baía.

Paralelamente, as forças navais de diversos países (Itália, Inglaterra, França, Portugal e EUA) solicitam autorização para desembarcar tropas na cidade e proteger seus concidadãos, o que leva Floriano a agir informando-as que, se insistissem em desembarcar homens armados, os mesmos seriam recebidos a tiros. 

Por sinal, após a revolta, era comum ver-se pessoas nas ruas ostentando um broche com a inscrição à Bala.

Enclausurados no interior da Baía de Guanabara e sem apoio em terra, próximo ou distante, a revolta quedou-se num duelo diário e indeciso entre os navios e a artilharia costeira, num impasse que beirava a monotonia.

Em novembro o couraçado Javari foi destruído, assim como o depósito de pólvora da Ilha do Governador, além de se frustrarem novos desembarques em Niterói.  No mês seguinte as forças federais assumem a Ilha do Governador, Mocanguê e a localidade de Magé, que servia como ponto de abastecimento dos revoltosos. 

Parte dos navios já havia seguido para o sul, para juntar-se aos rebeldes federalistas rio-grandenses – também amotinados contra o governo – e assim a própria frota rebelada enfraqueceu-se pela divisão de efetivos entre o Rio de Janeiro e o Rio Grande.

No início de fevereiro de 1894 houve uma bem sucedida invasão de Niterói pelos rebeldes, sendo estes, porém, detidos antes de chegar ao centro da cidade.  Mas eram os atos finais da revolta.

Em 13 de março, com a entrada na Baía de Guanabara de uma força naval legalista – reunida heterogeneamente pelo governo – e com o franco apoio das forças navais dos EUA (a esta altura quase absolutas entre as unidades estrangeiras), os rebelados remanescentes se renderam.

A revolta prosseguiria ainda por algum tempo, mas agora seu teatro de operações seria exclusivamente o sul.

*História da República – José maria Bello, Cia. editora Nacional, 1983.